Só faz é bem ao pulmão

Uma gaja teimosa como eu só aprende coisas com a vida quando ela é filha da p*ta e decide marcar-me o lombo a ferro em brasa. É assim que eu funciono. Já não há nada a fazer. Aprendi a viver com isso e a abraçar os ensinamentos que dessas quedas doridas advêm. Uma coisa é certa, elas são grandiosas e drásticas e ficam-me cravadas na memória para sempre. E, quando é assim, só muito dificilmente se cai na mesma esparrela novamente.

Nos últimos tempos tenho aprendido bastante. E uma das coisas que aprendi é que, às vezes, mais vale estar calada. Mesmo quando tenho razão. Por múltiplas razões. 

Para evitar chatices, para não me enervar sem necessidade, para não gastar o meu elaboradíssimo latim em orelhas moucas e mentes fechadas como túmulos. Porque não vai adiantar de nada, porque não tenho nada a ver com o assunto, mesmo quando pessoas que me são queridas estão envolvidas. 

Identificar as situações em que mais vale engolir as palavras do que as difundir por caminhos espinhosos é-me cada vez mais fácil. Mas quando as pessoas que me são queridas estão envolvidas, a mudez exige de mim um esforço muito mais tortuoso. É um dilema. Mas aprendi que, ainda assim, me devo remeter ao silêncio.

É uma opção de vida que agora tomo em consciência. Assim como eu só aprendo depois de fazer merda, há coisas que as pessoas só percebem pela força dos acontecimentos. Pela força da sua vida. Não das minhas palavras. As palavras sóbrias raramente são ouvidas quando as falamos a um coração loucamente enamorado... Eles não ouvem. Fingem só. É como falar com uma parede.

O que eu vejo do lado de fora do barco nunca vai ser visto da mesma maneira por quem está lá dentro. Têm que cair à água. Uma e outra vez, até que o barco pareça mais perigoso do que o mar (ou até que ele se ponha a dar gás maré afora sem ligar ao naufragado). 

É deixá-los cair. Eu também caio e não morro por isso. Muito pelo contrário!! É dar de bruços. Só faz é bem ao pulmão.

Catarina Vilas Boas

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