Os amigos são como peças de roupa. O próprio formato impede que estejam connosco sempre - uns são tshirts e crop tops, impossíveis de
usar no Inverno, outros são saias e vestidos que nós nem sabemos porque é que
ainda compramos uma vez que nunca os usamos e outros são os favoritos, as
calças, de cinta subida e, de preferência, de ganga, que dão para todo o ano.
Dentro das modalidades de vestuário temos peças preferidas:
aquele crop top, aquelas calças, aquele blazer. Aquela peça que, dentro do
género, é a nossa favorita, usamos e voltamos a usar, não nos cansamos e é
sempre aquela que nos vem à cabeça quando pensamos num outfit de topo. Essas
peças tendem a ficar guardadas, por amor, por paixão, pelo sentimentalismo barato
de sabermos que gostamos tanto delas que, um dia, tarde ou cedo, as vamos
voltar a usar.
Por vezes isso
acontece. Outras vezes não. Ora porque, quando voltamos a pegar nelas, já não
gostamos de nos ver com elas ora porque, pura e simplesmente, deixam de nos servir.
Chegamos à triste conclusão que não vale a pena guardar mais aquela peça,
aquele amigo. Já não nos serve, já não nos fica bem, e deixá-lo ali no armário
serve apenas como uma triste lembrança do que foi e não volta mais, por não ser
mais o que outrora foi. Quando é assim é doá-la. Dá-la a quem sente por ela
aquilo que outrora sentimos, deixá-la a quem a usará e a quem fica bem com ela.
Com ele. Com a peça assim como com o amigo.
É um sinal dos tempos. As roupas, assim como os amigos, não
crescem connosco. Só as de tecido elástico e os versáteis valem a pena manter
na nossa vida. Os verdadeiros vintage que ficam sempre bem. Esses hão-de servir sempre. Mesmo que às
vezes seja preciso encolher um bocadinho a barriga. É isso, também, a amizade.
Catarina Vilas Boas
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