A propósito do dia dos namorados

Eu não ia falar nada. Porque o que acontece com os textos sobre o dia de São Valentim é que soam sempre ou a ressabiamento ou a  gabarolice. Ressabiamento se o autor estiver sozinho. E gabarolice se o autor não estiver. Eu, como estou sozinha e gosto muito de avaliar as coisas pelo negativo, impus a mim própria abstinência sobre a temática (só sobre a temática). Tudo muito bem até ao momento em que me deparo com um texto no facebook que me deu apetites de arrancar os olhos com uma colher por estar a ler tamanha pérola. 

O discurso não foi exactamente este, até porque eu não guardo espaço na minha memória para palavras estúpidas, mas a criatura escreveu qualquer coisa do género:"ai e tal porque o dia dos namorados é para os namorados, a cada canto que vou é só mulheres a combinarem jantares para esse dia, não é nesse dia que vão arranjar namorado, para vocês existe o dia x de Agosto, dia do solteiro".

As pessoas sem namorados não podem marcar jantares no dia dos namorados. Fds, essa é  nova, desconhecia. E jantar em casa, podem? E tomar banho? E cheirar rosas, comer chocolates e ir a Paris? Podem ou é só se tiverem namorado? Mas agora porque a indústria decidiu criar um pseudo feriado para que os casais gastassem rios de dinheiro numa ode comercializada ao amor,  os solteiros têm que se fechar em casa como tuberculosos todos os santos anos, no dia 14 de Fevereiro? 

Outra coisa: "arranjar namorado"? É preciso querer arranjar namorado para se jantar fora no dia dos namorados? Aliás, que mulher é que precisa de se dar a esse trabalho para "arranjar" namorado? Não sei como é que anda, hoje em dia, o rácio de fêmeas para machos, em Portugal, mas da última vez que reparei bastava uma gaja mostrar as pernas e usar salto alto para ter meia dúzia de tordos à volta, como abutres a rondar uma carcaça.

Juízo, menina! Tenha juízo.

Catarina Vilas Boas

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