Clones

Sigo em frente de caminho decorado e olhos embaciados. O quotidiano lá de fora parece-me banal em comparação aos trilhos retorcidos da minha mente. Os edifícios já os sei de cor, só mudam as decorações que agora são natalícias e todas iguais. Não me interessam. As pessoas dão-me sono. Clones. Interessam-me ainda menos. Parecem um exército de formatados, construídos em série e escravos dos ditames da moda que os regem, desde a roupa que usam à vida que levam.

Pudessem elas ter um vislumbre das minhas reflexões, da minha cabeça delirante e distorcida, o que diriam elas? Pudesse eu ver o que se passa nas suas cabeças e julgá-las-ia implacavelmente iguais, como julgo agora? 

Serei eu diferente? Quem eu sou e o que faço aqui nem eu sei. 

Aprofundo uma existência parca de grandes acontecimentos em devaneios febris que me assomam o cérebro. Deles resulta uma dissecação do que vi, ouvi e senti, em tempos de memórias semi-apagadas que ressurgem das cinzas. Algo que me disseram ontem, algo que eu fiz há um mês, algo que disse há 10 anos. Reavalio as deduções que me dirigem a vida e faço um balanço 100% positivo da veracidade das minhas previsões. De há uns anos para cá desenvolvi o famoso instinto de que tanto falavam e que eu julgava não ter. Quiçá apenas experiência de vida... mas instinto sempre soa melhor.

Corpo e cerne em movimento a um ritmo frenético. Nem quando paro consigo parar. 

Catarina Vilas Boas

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